Crônica – Portugal

22/08/2013 13:36

A VERDADE NUA E CRUA

Nove meses conhecendo o mundo de um jeito que nunca imaginei que poderia. Não coloquei mochila nas costas, escalei montanhas, precisei pedir carona ou passei fome (estilo “Into the wild”). Mas quantas vezes eu quis ligar para casa pedindo socorro!

Perdi o trem na primeira viagem por não ter recebido os bilhetes, comprei novos bilhetes e fui sentada no chão do trem de Milão à Veneza.

Tive que atravessar Roma com malas e tudo para trocar de Hostel no meio da noite por causa de um italiano golpista.

Caí na lábia dos vendedores ambulantes e fui roubada.

Segui fluxo de pessoas para achar o caminho, porque não havia luz suficiente para enxergar o mapa nas ruelas de Veneza, as 5 horas da tarde.

Aprendi que os italianos cobram até pela toalha de mesa quando, no final da conta, apareceu o maldito “coperto”.

Fui obrigada a pagar 7 euros por uma toalha de banho que agora eu divido com a Mari nas viagens (revezamos quem coloca na mala, quem lava o cabelo no dia e a secamos no aquecedor).

Já fiquei em Hostel com pessoas que faziam “mais do que dormir”. Hostel que acabava a água quente. E onde roubaram minha comida da geladeira compartilhada.

Também já abusei da comida que sobra no café da manhã e eles oferecem aos hóspedes.

Já fiz um pote de margarina atravessar a fronteira de três países, e vi 800 gramas de Nutella indo direto pro lixo por não passar na fiscalização do aeroporto.

Conheço mais nomes de supermercados europeus do que pontos turísticos.

Passei mal por causa de uma salsicha em Copenhague e enfrentei um banheiro auto-limpante (limite de tempo de 20 minutos!) com a Mari me esperando do lado de fora e uma garota insistente batendo na porta.

No último ano novo ceei pão com queijo, para assistir os fogos de um lugar privilegiado, e não bebi uma gota de champanhe para turistar cedinho no outro dia.

Fui várias vezes de sombrinha para a balada em Coimbra. E salto aqui, nem tirei da mala.

Mala nem se fala, quantas fiz e desfiz, fora a que foi levada por engano em Munique e a que passou do peso em Paris.

Fiz walking-tour sob chuva em Budapeste e sob neve em Berlim. Também usei o lado de fora da janela para gelar as cervejas nesse dia.

Fingi escolher doces de uma padaria durante horas pra esquentar as mãos e os pés nos dias frios e nunca passei por um Starbucks ou McDonalds sem entrar para usar o banheiro.

Me safei, por muito pouco, por ter comprado o bilhete mais barato de metro do que deveria. E errei a parada da estação mais vezes do que posso contar.

Procurei por horas um panda que já havia morrido. Andei muito pra chegar a lugar nenhum. Perdi a fé no GPS e passei a acreditar mais em placas.

Passei noites sem dormir pra pegar vôos de madrugada e reconheci em todos os meios de transporte uma cama quente e fofa!

Cada viagenzinha surpreendia. As vezes eu achava que nada mais podia dar errado e chovia ou ficava frio e a gente não tinha casaco suficiente, não sei. Mas agora eu penso em todas as situações com um sorriso, imagino a Brenda e a Mari rindo muito quando lerem e espero não ter decepcionado ninguém, muito pelo contrário, provocado o espírito aventureiro de cada um!

Como faz para largar o mundo e voltar a viver numa ilha?

Marthina Wagner Jönk
Engenharia Química
Ciências Sem Fronteiras – Universidade de Coimbra 2012/2013

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